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Capítulo 3: Dualidade, Maldade e Ilusões

Há duas visões muito diferentes sobre o conceito de dualidade. Uma visão diz que uma mentalidade dualista significa reconhecer a existência de dois mundos: o mundo material e o mundo espiritual. De acordo com essa visão, tudo o que vemos com nossos olhos físicos, todo o mal, toda a dor e sofrimento, e toda a morte são meramente uma ilusão.

Querem dizer com isso que o mundo material não existe realmente, exceto em nossas mentes. Que criamos nossa própria realidade pelo poder da mente, e se pudéssemos simplesmente alcançar uma mentalidade única erradicando todo o reconhecimento do que eles chamam de ilusão, então poderíamos entrar no Reino de Deus e nos tornar imortais sem passar pela morte.

É claro que a maioria das pessoas que ensinaram isso no passado já estão mortas há muito tempo. Ainda assim, muitos continuam tentando alcançar esse estado de espírito "único" crendo que serão bem-sucedidos onde outros falharam. Tais pessoas são escravas de seu próprio esforço pessoal e disciplina mental.

Esse ponto de vista é radicalmente diferente do meu. Para mim, Deus é a Realidade máxima, e tudo o que Ele criou é um derivado dessa Realidade. Embora as formas variem, elas são muito reais. Embora toda forma seja mortal, ela é muito real, pois é parte da criação de Deus. Deus não é honrado quando chamam Sua criação de mera ilusão.

Deus não cria a ilusão, nem a mente do homem cria a realidade. A realidade já existe independentemente de nosso reconhecimento ou consentimento. Quando a mente do homem tenta criar sua própria realidade ou quando nega a existência do que já é, simplesmente é uma outra tentativa da mente carnal de controlar a situação através do poder do pensamento.

A mente natural (carnal) existe, juntamente com tudo o mais que Deus criou, contudo foi criada para ser serva do espírito, não mestre. No momento que uma pessoa pensa que é capaz de criar sua própria realidade pelo poder de sua mente, ela é um excelente exemplo de alguém cuja mente governa seu espírito. Sua mente carnal olha para o que Deus criou, vê a matéria, o mal e a dor, e depois discorda de Deus. Daí, parte a lançar fora o jugo do espírito através de uma rebelião interior, e começa a criar a ilusão de uma nova realidade à imagem dela.

O resultado não é a criação da verdade, mas da ilusão. Em nome da singularidade, tais pessoas negam a existência do que Deus criou e entronizam sua própria ilusão da realidade.

O mundo material não é uma ilusão. Deus o criou e o chamou de "muito bom" (Gênesis 1:31). Deus não cria a ilusão; o homem cria ilusões ao discordar de Deus. A criação não é uma ilusão, mas a percepção humana da criação de Deus pode certamente ser uma ilusão.

As ilusões têm a ver com a percepção, não com a realidade. Nosso objetivo não é entronizar a negação, mas ver o mundo com a percepção inocente como de uma criancinha. Nosso objetivo é ver a criação de Deus como ela é e aceitá-la sem alterações. Qualquer coisa que fique aquém disso, coloca as pessoas no caminho da doença mental.

Eu li muitos autores que negam a existência do mundo material. Em 2006, ao pegar a balsa de Washington para Vitória, no Canadá, minha esposa leu um livro que defendia esse ponto de vista. Ao estudar a verdade, não temos medo de ler sobre visões alternativas porque nossas mentes estão melhor capacitadas a compreender a verdade vendo o seu oposto. Portanto, é bom comparar pontos de vista.

No entanto, procuramos não ser governados por nossas mentes naturais. Isso significa que subordinamos tanto as comparações dualistas da verdade como a ilusão da mente ao poder da mente espiritual e única. Não negamos a existência do mal, nem da própria ilusão. Reconhecemos a realidade da ilusão como expressa neste livro, porém a vemos somente como mais um mal temporário que, em última análise, cooperará para o bem. O autor iludido está experimentando a ilusão para que, mais tarde, possa apreciar a verdade que será revelada.

Ao mesmo tempo, reconhecemos que nem todos estão tão cegos para a verdade. Em Romanos 11:7, Paulo contrastou o remanescente da graça (os eleitos) com "os demais" que estavam cegos. Eu não possuo uma ordem ou chamado para abrir os olhos dos cegos, pois essa é a tarefa do Espírito Santo. Não posso criar tal realidade pelo poder de minha própria mente, e tampouco meu espírito fará, exceto como um canal para o Espírito Santo.

Só posso apenas expor a verdade como a percebo, sabendo que ainda estou aprendendo e crescendo junto com todos os outros. Os de semelhante mentalidade se identificarão com qual seja a verdade que eu consiga apresentar, como também me perdoarão onde for insuficiente. Profundidade chama profundidade (Salmo 42:7 -NASB). O Espírito de Deus reconhece o Espírito de Deus nos outros.

Nesse livro, lido por minha esposa, o autor finalmente admitiu sua crença de que Jesus Cristo não precisava realmente ter morrido pelo pecado. Afinal, em sua opinião, não há pecado, não há mal, não há matéria, não há dor e não há sofrimento. Pois, sendo o próprio pecado apenas uma ilusão, não faria sentido que Jesus morresse por uma ilusão. Já que não há dor e nem sofrimento, diz ele, como é que Jesus poderia experimentar qualquer dor ou sofrimento? E, se o salário do pecado é a morte, então o salário da ilusão do pecado é a ilusão da morte.

Assim, está claro que esse ponto de vista não só destrói a realidade, mas nos obriga a negar a Cruz e o próprio propósito da vinda de Cristo. Durante anos, tenho dito que é isso o que tais homens ensinam, entretanto nunca tive um exemplo real que pudesse ser citado. Todos os demais autores levam o leitor apenas à beira dessa conclusão sem dizerem claramente, caso contrário o alarme soaria na mente de seus leitores.

É imperativo que compreendamos esse aspecto do Evangelho de Cristo. É imperativo que saibamos a diferença entre ilusão e realidade e como lidar com ela, para que não terminemos negando a Cruz em nome de Jesus.

Nossas mentes naturais são, por natureza, dualistas. A mente entende todas as coisas por seus contrastes: ela entende o negro por seu contraste, o branco. O que é longo por seu contraste, o curto. Entende o bem de acordo com sua percepção do mal. A incapacidade da mente natural de ver com apenas com um "olho" (Lucas 11:34) é um problema apenas quando ela se recusa a se submeter à liderança do espírito. Porém, quando se submete, então a verdade pode ser conhecida. A verdade é que de Deus se origina tanto o bem como o mal, e que mesmo as coisas "más" que Deus faz realmente servem a um bom propósito no final.

Fomos criados como "almas vivas" com uma mente finita, destinada a servir nossa mente espiritual na qual habita o Espírito Santo de Deus. Esse reino da alma, juntamente com tudo mais na criação, é real, pois Deus não o criou como uma ilusão a ser negada. A mente da alma pensa de forma dualista naturalmente, pois é essa a extensão de sua capacidade. Mas, isso não é "mau" ou "perverso" em si mesmo. Ela só se torna perversa quando atua em rebelião à mente espiritual e depois se propõe a criar uma realidade "melhor" a sua própria imagem. Essa chamada "realidade" é a verdadeira ilusão.

Em Isaías 45:7, lemos que Deus cria o mal. As mentes da alma dos homens discordam, e por várias razões, mas principalmente porque não compreendem essa realidade. Se não conseguem lidar com isso e nem encontrar a resposta bíblica, muitas vezes elas entram em estado de negação dessa realidade. A mente se revolta; se recusa a permanecer em seu papel servil, e logo se empenha em corrigir a situação. No entanto, como a própria mente é finita, ela só consegue criar ilusões quando funciona independentemente do espírito.

O autor mencionado acima alega que foi chamado a ser um criador, e que ele é capaz de criar a realidade pelo poder do pensamento. Além disso, diz que não podemos esperar que Deus realize isso porque nós mesmos fomos chamados a criá-la. Há uma ponta de verdade no que ele diz, pois, de fato, fomos chamados a participar na criação dos novos céus e da nova terra. Porém, devemos fazê-lo somente pelo poder do Amém (Apocalipse 3:14).

Uma pessoa "Amém" é um respondedor, não um iniciador. O respondedor é uma dupla testemunha daquilo que o Espírito faz, não um criador que espera que Deus dê testemunho dele. À parte de Deus, não podemos fazer nada (João 5:30; 15:5). Enquanto Ele for a Cabeça que dirige o corpo, nós temos autoridade. Mas, quando fazemos de nós mesmo a cabeça, só nos resta gritar ao universo e criar mais ilusões de como achamos que as coisas devem ser.

Ou seja, eles pensam consigo mesmos, "Se eu fosse Deus, teria feito dessa maneira", aprimorando assim a criação de Deus pela erradicação de toda a matéria, carne humana, o mal, a dor e o sofrimento. Talvez tais pessoas devessem ler novamente o livro de Jó.